domingo, 11 de novembro de 2007

Cotidiano

Eles não param de correr
Publicado na Revista JC, em 26.08.2007
Margot Dourado
mdourado@jc.com.br

Em um típico dia deste inverno recifense, em que a chuva e o vento conspiram para que ninguém saia de casa, a professora de educação física Luciana Van Drunen se encontra com o administrador Jovaldo Bastos, às 6h, para correr em Boa Viagem. O treino, de 10 a 20 quilômetros, repete-se quatro dias na semana – aos sábados e domingos, o percurso é mais intenso – e começou como uma diversão para manter a forma. Do simples hábito, surgiu a vontade de participar de corridas de rua e daí foi um pulo para as desgastantes provas de aventura, cujo percurso de 70 quilômetros deve ser feito entre cinco e sete horas. “Não dá para explicar o prazer que sinto ao correr. É uma sensação de liberdade misturada à alegria de vencer limites”, explica Drunen. E Bastos complementa: “Correr é como uma terapia. É o momento em que me desligo do mundo”. A brincadeira de enfrentar obstáculos e terrenos irregulares, porém, virou coisa séria. Os dois conseguiram, este ano, o índice para participar da competição de corrida de aventura mais importante do País e aguardam patrocínio para, em outubro, embarcar rumo ao Ecomotion 2007. A prova de 500 quilômetros tem que ser completada em sete dias. Mas isso é só um detalhe para a equipe Tribo Jaguar d’Aventura, da qual Luciana e Jovaldo fazem parte.


Essa é uma das várias histórias que se tornaram comuns no Recife. Afinal, a corrida virou moda na cidade. Na orla, na Jaqueira ou na Beira-Rio não é difícil encontrar, a qualquer hora do dia, legiões de corredores armados de tênis potentes, iPods e garrafas de isotônicos. O modismo, aliás, chegou a tal ponto que já existem por aqui grupos organizados, como o Fit Fan, que tem orientação de profissionais e cobrança de mensalidade.


O programa, que funciona há dois meses, tem o objetivo de condicionar fisicamente os alunos através da corrida e da caminhada. “Montamos uma planilha de treinamento de acordo com o preparo de cada um. Esse trabalho é individual e baseado em teste ergométrico, hemograma completo, avaliação biomédica e atestado médico”, ressalta o professor Marcus Prado, um dos fundadores do Fit Fan. “Depois da avaliação, o aluno é submetido a um teste que intercala corridas e caminhadas e que tem a função de encontrar a sua zona de treinamento. É feito, então, um trabalho de base para iniciar o condicionamento progressivo de cada aluno e a intensidade do treino aumentará aos poucos”, continua a professora e sócia do Fit Fan, Flávia Carvalho.


Hoje, a equipe conta com 56 participantes. O professor de química Alexandre Neiva, 28, é um deles. “Com orientação médica para perder peso, comecei um treinamento periodizado. No início, não corria um minuto e hoje já consigo fazer dois quilômetros contínuos.”


O consultor Paulo Acioli, 31, mesmo correndo sozinho, também conseguiu bons resultados com a corrida. “Conheci o esporte no exterior, criei o hábito e quando retornei ao Brasil continuei a correr”, relata ele, que sai às ruas, religiosamente, aos sábados. “Mas tomo cuidado para evitar lesões. O tênis tem que ser apropriado e a hidratação é essencial”, recomenda ele, que nunca sofreu traumas durante as corridas. Já o administrador Juracy Duque, 33, coleciona lesões vindas de corridas mal orientadas. “Quando comecei a correr, acreditava que a boa corrida se media pela alta velocidade. Treinava desesperadamente para aumentar o meu ritmo e acabei sofrendo problemas nas articulações. Tive que parar por um tempo. Quando retornei, passei a tomar cuidados. Comprei um tênis apropriado e respeito os limites do meu corpo”, diz.


“A corrida é uma das atividades mais eficientes para queimar calorias. Mas a pessoa deve perder peso para começar a correr, e não o contrário. Quando se corre estando acima do peso, aumenta-se consideravelmente o risco de lesões”, recomenda o médico Leonardo Araújo, especialista em traumatologia desportiva. Lesões articulares (joelho, tornozelo e coluna), inflamação de tendões e fratura por estresse são alguns dos problemas que a corrida pode trazer se mal executada. O calçado também é importante. “O modelo adequado ajuda a prevenir lesões. O mais importante é que o tênis seja adequado à forma de pisar do corredor: supinada, mais apoio na parte externa do pé, pronada, mais apoio na parte interna do pé ou neutra”, continua Araújo. E a fisioterapeuta Ana Guimarães alerta: “A Associação Americana de Podiatria diz que o tênis dura 800 km para atletas com até 80 quilos e 560 km para atletas com peso superior. Depois, o calçado perde 70% da capacidade de amortecimento e estabilidade”.


Aliás, a melhor maneira de prevenir lesões com as corridas é aquecer e alongar. Um aquecimento leve antes de iniciar o treino ou a prova prepara sua musculatura e seu organismo para o esforço que virá a seguir. Nada muito pesado, apenas o suficiente para esquentar o corpo e tirá-lo de uma situação de repouso relativo. Depois doe aquecimento, faça um alongamento dos principais grupos musculares: pernas, braços, costas, pescoço. Não se preocupe com sua flexibilidade. Alongue até onde se sentir confortável. Faça tudo de forma calma, tranqüila e respire suavemente. Mantenha cada grupo muscular alongado por 20 segundos. Faça séries de três repetições e não se esqueça de repetir o alongamento após terminar seu treino.

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